Com a devida vénia, eis o artigo de opinião do comentador político Luís Delgado, publicado ontem na revista "Visão",
«Agora, à distância, porque o efeito não é imediato, desapareceram os responsáveis pelas condições em que foi jogada a final da Taça dos Campeões no Porto. Total, completa e absoluta irresponsabilidade. Milhares de fãs, sem regras nem cuidado, e muito menos na tal bolha, transformaram a cidade num torneio medieval, de manhã à noite, durante quase três dias, encharcados em álcool, em permanentes escaramuças, sem respeito por ninguém, e impossíveis de controlar por qualquer força de segurança.
Quem perdeu o controlo disto? Aliás, quem admitiu isto, em primeira instância? O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, está carregado de razão quando pede responsabilidades ao Governo, e às autoridades de saúde, por utilizaram dois pesos e duas medidas nos espetáculos desportivos: em Portugal não é permitida a presença de público num jogo, de qualquer modalidade, mas quando se tratou da Liga dos Campeões foi tudo à vontade, em números superiores ao que estavam anunciados, e ignorando qualquer regra de distanciamento ou proteção contra a pandemia.
Vieram aos milhares, trouxeram vírus e variantes, desapareceram horas depois do jogo, e deixaram o lixo contagioso a nosso cargo. Quem assume a responsabilidade por isto? Agora, timidamente, vem a ARS do Norte pedir que nos próximos 14 dias exista uma especial cautela para quem teve contato ou proximidade com os britânicos. Como sempre, a porta só se tranca depois do assalto. A propósito: a ARS foi consultada sobre esta invasão? Deu o seu aval? E a DGS? E a ministra da Saúde? E os membros do Governo com a tutela do Desporto? E o Governo como um todo?
A irresponsabilidade é tão grande como isto: na sexta-feira, na reunião do Infarmed, os peritos mostraram preocupação com os números e Lisboa, e também no Alentejo, e alertaram para a alta probabilidade de nas próximas semanas poder ser rebentada a escala da matriz de risco. Junte-se agora o Porto, daqui a duas semanas, e o resultado será fácil de imaginar. E depois venham-nos com as vacinas, o SNS, e a resiliência. E com a maturidade do povo português. Os cidadãos do Porto foram mal tratados, colocaram-nos em risco, desnecessário, e agora são deixados por sua conta e risco. Ninguém corou de vergonha, ainda?»
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