quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Será que podemos mesmo preservar a nossa privacidade?

Eis, com a devida vénia, a prosa de opinião da autoria de Miguel Esteves Cardoso publicada hoje no jornal "Público" com o título "Haja privacidade",

«O TLS natalício ofereceu um aviso de David Eggars sobre os perigos digitais que corremos. Não é o que queremos ouvir. Mas é aquilo que precisamos de ouvir.

Podemos fulminar contra o Facebook mas é no nosso comportamento que está o perigo. Não é só o truísmo do Facebook não poder fazer nada sem a nossa participação. É a nossa atitude perante a partilha dos nossos dados: que mal é que pode ter?

Eggars arranja uma maneira convincente de falar do que já perdemos. Um conhecido pergunta-lhe na rua quando é que vai responder ao mail que ele mandou. Eggars mente: diz que não leu, que não tem ido ao mail. O perseguidor contrapôe logo: "Não. Por acaso leste às onze da manhã, uma hora depois de teres recebido o mail".

Eggars conta o que seria necessário para saber a que horas alguém leu uma carta em papel que lhe mandámos: seria preciso invadir a nossa casa nem que fosse com uma câmara secreta. Se isso é inadmissível porque é que é admissível ter uma aplicação que nos diz quando é que um destinatário abre um documento?

O que se estragou - e que se está a estragar cada vez mais - é a cortesia, a maneira como respeitamos a privacidade uns dos outros. A privacidade é uma liberdade fundamental. A boa educação (Eggars a mentir para o outro não se sentir desprezado) desaparece de um momento para o outro.

Se não conseguirmos proteger a nossa privacidade como é que podemos estar à espera que sejam grandes empresas dedicadas a explorar a informação que têm sobre nós (e que nós demos e damos) a fazê-lo por nós?»

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