A "atrevida" crónica de opinião de Miguel Esteves Cardoso acerca do recente acidente de viação do duque de Edimburgo. Foi publicada ontem no jornal "Público", com o título "O duque recomenda-se". Vale mesmo a pena ler. Com a devida vénia, aqui fica,

Para chegar a esta informação sobre os passageiros do outro carro foi preciso ler as notícias até ao fim. O cabeçalho da BBC era esta maravilha: “The duke is unhurt.”
Ou seja: o mundo pode continuar a girar e nós podemos prosseguir com as ninharias com que ocupamos o nosso tempo porque o duque, que tem 97 anos, não está magoado.
As testemunhas foram entrevistadas: como estava o duque? Estava abalado, porventura um pouco desorientado, tendo virado o jipe. Mas fez questão de perguntar como estavam os passageiros do carro com que colidiu.
Na televisão inglesa um comentador ingénuo teve a lata de sugerir que talvez o duque, dada a sua idade e o facto de não lhe faltarem motoristas, não devesse conduzir. Os outros comentadores olharam para ele com ódio e ultraje, como se ele tivesse recomendado a eutanásia do duque.
Ninguém disse, mas não foi preciso dizer: ele é o duque de Edimburgo, burro. É casado com a Rainha. Tem 97 anos, mais de metade desperdiçada a aturar totós como tu. Ele pode fazer o que lhe apetece.
Sim, tem motoristas. Sim, tem 97 anos. Mas gosta de ser ele a conduzir, para dar um exemplo de independência geriátrica.
Enfim, o duque saiu-se bem da colisão. Não há notícia acerca dos pormenores do seguro. Não se sabe se levou algum raspanete da polícia. Já lhe foi entregue um novo Freelander. The duke is unhurt. Thank God.»
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