A frase em título integra um interessante artigo de opinião, da autoria do jornalista João Marcelino, publicado ontem no "Jornal Económico", com o título "Que raio de gente". Com a devida vénia,
«Primeiro foi a carta de apoio a Lula. Esse sim! Agora é a foto do protesto feminino contra Bolsonaro. Ele não! Os anos da geringonça estão a transformar uma parte do Parlamento português num sindicato de militância internacionalista. Onde era suposto haver políticos, afinal descobre-se um lóbi de ativistas. Sobretudo de costumes. Uma espécie de irmandade de estrábicos com vocação para se meter naquilo que não deve.
Já era relativamente tonto que 22 deputados portugueses olhassem para Lula, um corrupto condenado, e ali apenas assinalassem um grande amigo dos pobres pretensamente perseguido por uma direita dita fanática e vingativa. Mas isso foi uma carta. Sabemos do conteúdo mas não tivemos acesso ao “making of”. A foto de agora, onde conto 19 cabeças, 18 das quais pertencentes a deputadas de PS, PCP e BE, aumenta a dimensão do ridículo. Basta olhar – e ver.
Abstenho-me de compartilhar a minha visão do documento para não cair num eventual crime de género e assinalado pelas hordas fanáticas. Detenho-me, apenas, na dimensão política.
O Parlamento português reúne hoje uma ala de gente muito pouco capaz, sectária – e, como se tem visto, bastante juvenil, militante e sem o necessário sentido de Estado. Só isso explica que, por exemplo, à esquerda, a realidade da Venezuela e do Brasil sejam vistas com olhares diferentes.
Onde o ditador Maduro passa incólume, protegido por um silêncio envergonhado, Bolsonaro, um produto típico da América Latina, homem mais inculto e atrasado do que verdadeiramente fascista, cuja ação é catalisada pela insegurança e pela criminalidade de um Estado a caminho de falhar, recebe esta atenção do feminismo parlamentar lusitano. E não me venham dizer que este sectarismo é marginado pelo interesse nacional. Mentira!
Não há menos cidadãos e interesses portugueses no Brasil do que na Venezuela. O que há é deputados e deputadas com certeza com pouco que fazer, capazes de fecharem os olhos perante crimes de lesa-humanidade, como aqueles que os líderes da Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru agora assinalaram ao governo de Maduro em queixa enviada ao Tribunal Penal Internacional.
Esqueçamos até as migrações em massa e a fome originada por uma política venezuelana miserável. Estamos a falar de detenções arbitrárias, tortura, assassinatos, abusos sexuais e violações (sim, minhas senhoras, também se cometem por ali esses crimes – e não apenas contra Marielle Franco). Isso, sim, é política séria, com consequências, e não gestos infantis, sem significado, que ainda por cima diminuem o Parlamento em termos nacionais e externos.
Por também ser verdade, assinalo que a esmagadora maioria dos deputados do PS felizmente tem sabido cultivar distância em relação a estes grupos de ativistas, aos quais nunca se ouviu um queixume sobre a forma como o regime, por exemplo, construiu o edifício de excesso de garantias que faz com que os nossos criminosos comprovados continuem a escapar ao pagamento da sua dívida social.
É em alturas como esta que se percebe como o Parlamento regrediu em relação à qualidade dos homens e mulheres que fizeram parte dos primeiros anos da Democracia portuguesa. Temos razão para estar preocupados. Eu junto-lhe, igualmente e a título pessoal, uma dose de vergonha.»
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