Com a devida vénia, eis o pertinente e oportuno artigo de opinião de Vítor Rainho, intitulado "Os taxistas perderam em toda a linha", publicado hoje no "Jornali",
«Já tinha andado à boleia várias vezes de Uber, mas nunca tinha requisitado o serviço, até sexta-feira. Nas viagens que fiz no fim de semana pude aperceber-me que, como eu, muitos outros entraram no mundo dos serviços das plataformas digitais e foram vários os relatos que os condutores me fizeram de pessoas que nunca tinham andado de Uber e que ficaram fãs. Digamos que os taxistas convencionais perderam muitos clientes com esta paralisação que convence muito poucos.
Certo é que, com esta luta, os taxistas acabaram por se prejudicar a si próprios e dificultaram a vida às pessoas com menos posses e menos conhecedoras dos meandros eletrónicos. Muitas pessoas que vão a consultas ou às urgências hospitalares tiveram que arranjar alternativas aos táxis ou foram mesmo obrigadas a faltar aos seus compromissos com os médicos. Por seu lado, as plataformas eletrónicas de transportes, assim designadas por os clientes acederem aos seus serviços através de uma aplicação eletrónica, ganharam em toda a linha: por terem adquirido muito mais clientes e por terem cobrado preços idênticos aos dos táxis normais ou até superiores. Afinal, essas plataformas determinam o preço em função da procura e não faltaram clientes nos dias da greve dos taxistas.
Mas o mais insólito desta história é que não se percebe a guerra dos taxistas. Querem que os “outros” paguem os mesmos impostos e que tenham a mesma obrigatoriedade de tirar a carta profissional e tudo a que ela está associada? Penso que se for só isso estamos todos de acordo. Mas o problema é que a maioria dos taxistas não quer concorrência. Os proprietários dos táxis porque perdem uma das suas grandes fontes de riqueza, que é a revenda dos alvarás que compraram por 500 euros à câmara e que passam por mais de 100 mil euros a outros interessados. Os taxistas, aqueles que gostam de “enganar turistas e não só”, porque perdem muito dinheiro. Já os taxistas sérios, que são a maioria, e que trabalham por conta de outrem, percebem que ficam com mais alternativas de trabalho. Já agora, será verdade que alguns dos proprietários mais famosos dos taxistas já têm vários ubers a trabalhar para si? A hipocrisia é tramada.»
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