Com a devida vénia, transcreve-se o artigo que foi publicado na "Saúde Online" de ontem, com o mesmo título,
«Taxa de suicídio nos médicos é mais do dobro da da população em geral. Depressão, ansiedade e cansaço, fatores associados ao grande volume de trabalho e ao stress, estão na origem do fenómeno.
Os resultados refletem a realidade norte-americana mas vêm reforçar uma tendência a que se tem assistido também no continente europeu: o aumento da ansiedade, cansaço e depressão a que os médicos estão sujeitos estão a fazer aumentar os casos de burnout, levando alguns profissionais a pôr termo à própria vida. Nos Estados Unidos, regista-se um suicídio por dia entre a classe médica, o que posiciona a taxa de suicídio dos médicos no lugar mais alto de entre todas as profissões.
Os dados revelados numa investigação realizada nos EUA apontam para uma taxa que varia entre os 28 e os 40 suicídios por cada cem mil médicos, o dobro do rácio registado na população geral (12,3 por 100 mil). Ao site Medscape, a psiquiatra Deepika Tanwar defende a necessidade de uma intervenção precoce junto dos médicos que apresentem sintomas depressivos ou de cansaço extremo e salienta que “é surpreendente” que a taxa de suicídios na classe médica seja superior à dos militares, que é considerada uma profissão altamente stressante.
Dados recentes indicam que a depressão afeta 12,5% dos médicos e 19% das médicas, uma taxa semelhante à da população em geral. Os resultados deste estudo mostram, por exemplo, que no caso das médicas, apesar de a taxa de tentativas de suicídio até ser mais baixa do que na população em geral, a taxa dos suicídios consumados é 2,5 a 4 vezes maior do que na generalidade das mulheres. A nível da taxa de suicídios consumados na classe médica, não há diferenças entre médicas e médicos.
Os investigadores salientam que os problemas de depressão e ansiedade entre os médicos também já foram documentados em trabalhos publicados na Finlândia, Noruega, Austrália, Singapura e China, que mostram um aumento da prevalência de ansiedade, depressão e suicídios entre a classe e médica e também entre os estudantes de medicina e os médicos internos. Outro fator referido no estudo como podendo levar ao suicidio é o consumo de drogas ou outras substâncias psicoativas.
O estigma é ainda um entrave para que os próprios médicos procurem ajuda especializada e tratamento. Deepika Tanwar, psiquiatra do Harlem Hospital Center, em Nova Iorque, lembra um questionário feito através da rede social Facebook em 2016, em que 50% das 2106 médicas que responderam reportaram sintomas de algum tipo de transtorno mental, ao mesmo tempo que mostravam relutância em procurar tratamento.
Segundo este estudo, apresentado no Congresso Anual da Associação Americana de Psiquiatria, o enforcamento e o envenenamento são os meios mais usados pelos médicos para colocar termo à vida – o que pode estar relacionado com o facto de estes profissionais terem uma maior facilidade em aceder a algumas substâncias letais, sugerem os investigadores.»
Sem comentários:
Enviar um comentário