terça-feira, 22 de maio de 2018

O microfone dado a Bruno de Carvalho, por vários canais de televisão, na tarde de sábado, foi uma demissão do jornalismo

Dois pequenos excertos da crónica intitulada "A magia e o veneno na mesma tarde" de Francisco Sena Santos, publicada ontem no "SAPO24". Com a devida vénia,

.../...«É sabido que o jornalismo de qualidade é um pilar da democracia. Contribuir para uma sociedade informada, dar os elementos que ajudam cada pessoa a entender o que de relevante se passa à sua volta, permitir perceber as mudanças, é uma responsabilidade principal dos jornalistas. A missão implica que o jornalista estude de modo aprofundado tudo o que está em causa na matéria que tem para contar, de modo a poder enquadrá-la.

Os casos que nos últimos dias envolvem o Sporting ultrapassam o habitual envenenamento que sai do futebol falado nas tertúlias nas televisões. A violência e os choques desencadeados tornaram, evidentemente, imperioso relatar e analisar o que está a acontecer.»

.../...«O tratamento das várias vertentes do “caso Sporting” impõe-se, mas é preciso ter em conta os limites do razoável. O microfone dado a Bruno de Carvalho, por vários canais de televisão, na tarde de sábado, para que ele dissesse tudo o que lhe apetecia, ao longo de duas penosas horas, foi uma demissão do jornalismo. É facto que havia a expectativa de algum anúncio relevante, mas cedo se percebeu que Bruno de Carvalho não iria anunciar a retirada. Perante a evidência de ausência de notícia, não fez sentido que a transmissão em direto tenha continuado. É de desejar que este caso possa ser discutido nas redações para que o relato jornalístico não fique assaltado por um demagogo que, com argumentação degradante e lastimável uso da língua portuguesa, consegue ocupar o espaço de reportagem com propaganda ridícula. Muitas vezes vemos ser cortada a palavra, em nome do tempo útil, a quem tem conhecimento com valor para dizer. Tudo o que Bruno de Carvalho disse naquelas duas horas caberia em dois minutos de relato de um repórter. Tempo mais do que suficiente para contar duas horas de envenenamento.».../...

Sem comentários: