Do artigo de opinião de Filipe Luís, Director Executivo da revista "Visão", publicado ontem nesta revista, com o título "A igreja anti-Cristo", alguns excertos. Com a devida vénia,

.../...o abstruso surgiu de onde menos se esperava. De um bispo conhecido pela sua preparação intelectual e pelo conhecimento do mundo real, um homem ilustrado como o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Será que se passou?...
.../...Em que mundo viverá D. Manuel Clemente? Acha que um homem e uma mulher, que gostam um do outro e escolheram viver juntos vão fazê-lo em abstinência sexual? A sério? A violência desta exigência, a sua extrema desumanidade, a chantagem religiosa, a intromissão na vida privada, a violação da consciência e, finalmente, a sua inexequibilidade, transforma-a na atitude menos cristã de que há memória na História recente da Igreja Portuguesa. Já há quem - padre Rui Pedro Carvalho, diretor do serviço de Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa (lido in Observador) - remeta a recomendação para a exortação apostólica Familiaris Consortio, de 1981, do Papa João Paulo II. Nesta versão, não seria D. Manuel Clemente quem estaria a ter "ideias brilhantes", mas sim o próprio São João Paulo II. (Faz-me lembrar o argumento de Cavaco Silva, quando falou da solidez do BES, pouco antes de a falência do banco ter feito milhares de lesados, e veio depois dizer que tinha apenas citado o Banco de Portugal...) Reparem bem: 1981! D. Manuel Clemente agarra-se a uma recomendação de um Papa conservador exprimida através de uma velha "exortação" com quase 40 anos! Para quê? Para entalar o Papa Francisco?... Uma exortação pode ser atualizada ou mesmo revogada por uma nova exortação de um papa posterior. Ou tornou-se dogma da Igreja e já não pode?...
A exortação do papa (finalmente) cristão, de nome Francisco, intitulada Amoris Laetitia, é totalmente revogatório desta "exortação" de João Paulo II do tempo da maria cachucha. Adapta a misericórdia da Igreja a novos valores, mais de acordo com a natureza humana. (O padre Anselmo Borges comentou esta quinta-feira que a recomendação de D. Manuel atenta contra a natureza humana...).
Se Francisco dá um passo em frente, D. Manuel dá dois atrás, talvez pressionado pelo crescimento dos tais contornos "cismáticos" do movimento ortodoxo que procura dividir a Igreja, também em Portugal, e que foi tema de capa na VISÃO n.º 1299. No fundo, cada diocese tem hoje autonomia para interpretar as palavras de Francisco - que verdadeiramente, reconheçamo-lo, não se sabe impôr. Já procurávamos padres que batizassem os nossos filhos sem determinadas exigências - padrinhos crismados, por exemplo... - enquanto outros se recusavam a fazê-lo. Agora, um "recasado" terá de procurar uma diocese mais tolerante e progressista para poder comungar. A confusão está instalada e D. Manuel Clemente é o responsável mais recente por essa confusão.».../...
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