quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A ópera bufa de Tancos continua em exibição

Excerto do "Expresso Curto" de hoje, da autoria de Nicolau Santos, Director Adjunto do semanário "Expresso". Com a habitual vénia,


.../...«a ópera bufa de Tancos continua em exibição e com grande sucesso. Cada episódio é mais hilariante que o anterior e todos os intervenientes estão de parabéns pelas magníficas prestações que têm tido.

Depois do roubo do material de guerra que ninguém viu; depois de se saber que a videovigilância estava avariada, a cerca por reparar e que as rondas eram quando calhava; depois de terem sido demitidos temporariamente cinco chefes militares para não perturbar as investigações, que foram reconduzidos antes de serem conhecidos os resultados das ditas; depois de se suspeitar que o material já estaria todo no estrangeiro, prestes a ser utilizado por perigosos jihadistas, eis que os cidadãos foram informados que afinal se tratava de material obsoleto e para abate, pelo que os larápios não só tinham feito um favor ao país ao levar a sucata como o país se podia rir de larápios tão mal informados; depois de ser dado por adquirido que tal material nunca apareceria, eis que ele surge como por encanto num armazém a pouco mais de 20 quilómetros de Tancos, descoberto pela Polícia Judiciária Militar, que o retirou imediatamente do local sem dar conhecimento senão algumas horas depois à Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT), da Polícia Judiciária (PJ), que lidera a investigação; depois de se saber que praticamente tudo tinha sido recuperado, eis que é revelado que afinal os assaltantes ainda devolveram uma caixa que não constava da relação inicial do material roubado em Tancos. Extraordinário!

E o que tinha a caixa? Coisa pouca. Cem velas de explosivo plástico. Cada unidade, um cilindro moldável como a plasticina, tem cerca de 200 gramas e é um explosivo militar com capacidade superior ao TNT. Um carro-bomba com apenas cinco quilos deste material faz muitos estragos e vítimas. Para material obsoleto não está nada mal.

É claro que um filme com este enredo só pode ser um enorme sucesso de bilheteira, abrilhantado pela entrada em cena do Chefe do Estado Maior do Exército, Rovisco Duarte, que veio confirmar que “existe uma caixa a mais [de petardos], que não constava da relação inicial” do material furtado, acrescentando contudo que a “ligeira discrepância” é “perfeitamente compreensível” porque, como o material em causa era utilizado na instrução, pode ter sido registada a saída dos petardos e estes não terem sido consumidos por várias razões, como o mau tempo.

Sim, todo este imbróglio e a “ligeira discrepância” em volta do roubo de armamento de Tancos é perfeitamente compreensível. Olá se é! Nós é que ainda não percebemos como é que Rovisco Duarte, que anda a ser tramado mas também se trama a si próprio, ainda se mantém no cargo.».../...

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