sábado, 7 de outubro de 2017

O adeus a Passos Coelho

O jornal online "Observador" publicou, há dois dias, um oportuno e muito assertivo artigo de opinião, da autoria da jornalista Helena Garrido, intitulado "O adeus de Passos Coelho". Com a merecida vénia, eis alguns excertos:

«A história fará justiça a Pedro Passos Coelho. Neste momento ninguém quer saber do futuro e muito menos do passado. Só o presente conta e tem de ser feliz.»

.../...«Embora esteja longe de estar errado, Pedro Passos Coelho enganou-se e fez o que devia fazer. Citando Pedro Santana Lopes esta semana na SIC: “é um homem do dever ser”. E não está errado nos alertas que tem feito porque Portugal está exposto a um enorme risco financeiro – medido pela dimensão da sua dívida externa – e vive há dois anos sem uma política económica, financeira e social que resolva efectivamente alguns dos nossos problemas mais graves. Entre os problemas que um dia teremos de enfrentar, além da dívida, estão obviamente o sistema de pensões e a saúde. Vamos ter problemas, só não sabemos quando.

É aliás irónico e ilustrativo, da fase de grande ilusão em que vivemos, que se diga que o PSD de Pedro Passos Coelho não tem políticas para o país quando na realidade tem sido o único a falar desses problemas. Podemos não gostar das soluções, mas não podemos dizer que não identifica os problemas e não apresenta uma via para os resolver. O mesmo não se pode dizer deste Governo que governa junto à costa, decidindo em função do que vai sendo a agenda mediática – agora é a habitação – e os segmentos de mercado eleitoral.

Hoje podíamos escolher a forma de resolver alguns desses problemas, controlar a solução, minimizar os danos. Mas ninguém quer. Tal como no passado quisemos acreditar que estávamos ricos e podíamos encher o país de auto-estradas e viver de crédito bancário, hoje voltamos à mesma crença do crescimento infinito de rendimentos, sem que se diga que para isso é preciso produzir mais e melhor.

Os erros de Pedro Passos Coelho foram esses. O de projectar o futuro de forma linear – não contou com a cumplicidade do PCP – e o de acreditar que era possível aos portugueses verem a realidade dos problemas que temos e não se deixarem iludir. E assim se transformou naquilo que o próprio designou como a “argamassa” desta solução governativa. Sem o querer, era o ex-futuro líder do PSD que estava a unir o PCP e o Bloco de Esquerda ao PS. Transformaram Pedro Passos Coelho – e Pedro Passos Coelho foi deixando que isso acontecesse — numa espécie de “lobo mau”: se não querem, vem aí a “direita e o corte de rendimentos”. Os resultados das eleições autárquicas, os piores de sempre do PSD, confirmaram que boa parte dos cidadãos sentiam o mesmo: não querem este líder social-democrata que os alerta para os problemas.

Ninguém quer saber do passado como também dizia esta semana na SIC Pedro Santana Lopes. Como também ninguém quer saber do futuro. Cansados de crise, queremos viver o presente. A história agradecerá a Passos o que fez pelo país. Esperemos que os portugueses não tenham também de se lembrar dos avisos que fez. Porque os problemas estão lá, à espera de serem resolvidos para não empobrecermos. Com esta solução governativa, já percebemos, não serão resolvidos, não existem condições políticas para isso. António Costa sabe isso como saberá também o novo líder do PSD. Até à formação de uma maioria diferente desta continuaremos nesta ilusão de infinita reposição de rendimentos que levou ao adeus de Passos Coelho.»

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