.../...«As estatinas foram o maior avanço terapêutico na doença coronária das últimas décadas, juntamente com outros meios tais como o bypass coronário, a angioplastia coronária e a terapêutica trombolítica na fase aguda do enfarto do miocárdio.
Atendendo ao facto de estas doenças serem a principal causa de morte na maioria dos países, é fácil apercebermo-nos da enorme utilidade destes recursos. Poupam-se milhares de vidas.
E quanto ao colesterol? O documentário começa por salientar que o colesterol é uma substância fundamental, mas nunca se chega a perceber se será indiferente ter muito ou pouco a circular no sangue. Antes pelo contrário, salientou-se que pode até ser perigoso atingir valores muito baixos de colesterol.
Ora, sabemos que a maior probabilidade de regressão da aterosclerose ocorre quando os valores de colesterol LDL (mau colesterol) se situa abaixo de “70”, o que corresponde, aproximadamente, a uma taxa de colesterol total de “130” ou, nos indivíduos doentes, apesar de sempre terem apresentado valores normais, uma redução de 50%.
Para atingir esses valores alvo é necessário otimizar a dieta e, por vezes, utilizar doses muito elevadas de estatinas, isoladamente ou em associação com outros tipos de medicamentos.
Acredita-se que a adoção de um estilo de vida saudável desde muito cedo, associado ao diagnóstico precoce (rastreio) das primeiras lesões ateroscleróticas e o tratamento da doença contribuirão, dentro de poucos anos, para quase erradicar o enfarte do miocárdio e o AVC.
Há poucas semanas, a revista científica The Lancet publicou um estudo que revelou que uma tribo sul-americana tem o coração e as artérias mais saudáveis do mundo. Este estudo incluiu um moderno método de diagnóstico precoce da doença coronária, a TAC para quantificação do cálcio coronário (score de cálcio), técnica esta também referida, embora de forma cientificamente enviesada, neste documentário. Os índios Tsimane apresentavam aos 75 anos quantidades de cálcio idênticas aos americanos com 40 anos de idade. Têm um estilo de vida muito ativo do ponto de vista físico e a comunidade passa a maior parte do dia a caçar, pescar, cultivar e colher frutas, seguindo uma dieta baseada em hidratos de carbono, com pouca proteína e pouca gordura. Os valores médios das suas análises não variaram de forma relevante dos 40 aos 80 anos e eram 150 mg/dl para o colesterol total e os valores de tensão arterial inferiores a 120/75 mmHg. O peso e o índice de massa corporal encontravam-se dentro dos valores ideais. Como é óbvio, esta população não tomava estatinas e o estudo não foi patrocinado por nenhum gigante da indústria farmacêutica.
Para terminar, salientando que somos reconhecidos defensores das virtudes do estilo de vida saudável, não podemos deixar de referir que as estatinas dispõem de uma solida evidência que demonstra que o seu emprego em doentes de risco reduz significativamente a morte cardiovascular. Reconhecemos também que as Estatinas, como todos os outros medicamentos, podem ter efeitos secundários, mas os benefícios são tão significativos que devemos fazer todos os esforços para que estes medicamentos sejam usados nos doentes apropriados.
Hoje em dia, quem põe em causa o emprego das estatinas como fármaco de primeira linha no combate à principal causa de morte da nossa população está a negar a utilização de uma classe de fármacos que reduz significativamente o risco de morte cardiovascular.
É conhecido que as grandes companhias farmacêuticas já não promovem as estatinas, que em sua maioria estão disponíveis no mercado como genéricos. Por outro lado, nem sempre é conhecido que os seus detratores defendem a utilização de suplementos e outros produtos “ditos naturais”, cujos benefícios, na sua maioria, não têm qualquer suporte cientifico.
Estamos convencidos que só com a ajuda esclarecida dos media será possível minimizar as consequências funestas desta campanha anti-colesterol e anti-estatinas, pelo que apelamos à responsabilidade profissional de todos os jornalistas envolvidos nestes temas de saúde.»
(1) - Ovídio Costa - Cardiologista no Hospital da Lapa; diretor dos cursos de pós-graduação em Geriatria Clínica e Medicina Desportiva da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
(2) - Manuel Oliveira Carrageta - Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia; presidente da Sociedade Portuguesas de Geriatria e Gerontologia
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