segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O colesterol e as estatinas (1)

Do artigo de opinião da autoria de Ovídio Costa (1) e de Manuel Oliveira Carrageta (2), intitulado "O escândalo do colesterol e das estatinas", publicado no jornal "Público" de 5 de Agosto de 2017, com a merecida vénia,

«Será mesmo o colesterol uma grande farsa e as estatinas o maior embuste farmacêutico do século?»

«Está em curso uma campanha anti-colesterol e anti-estatinas que atingiu o seu apogeu com a transmissão pela RTP1 do documentário “Colesterol: A grande farsa”. Esta estação pública, na nossa opinião, prestou um mau serviço ao transmitir este documentário, ainda mais sem quaisquer esclarecimentos adicionais contraditórios, apostando exclusivamente nos argumentos que impactam nas audiências e sem tentar estimar outro tipo de consequências para a opinião pública como, por exemplo, o aumento do efeito nocebo (do latim “fazer mal”) e da ocorrência da síndrome de privação das estatinas.

Este tipo de apreciações, em contraponto com o estado atual da arte e da ciência no que se refere à prevenção e tratamento dos acidentes cardiovasculares, são vulgares e insensatos. São argumentos sensacionalistas, com origem em personalidades médicas com pouco reconhecimento científico junto dos pares. Salientamos que estas campanhas podem ter consequências mortais para os doentes de risco, ao pôr em causa uma terapêutica com efeitos benéficos tão claramente demonstrados.


Devido à campanha anti-colesterol e anti-estatinas que grassa nos media e na Internet, os clínicos ultimamente têm passado bastante tempo nas consultas a tentar manter os doentes a fazer ou iniciar terapêutica com estatinas. O receio causado pelo alarmismo desta campanha leva alguns doentes a abandonar a terapêutica, com graves consequências para a sua saúde.

Originam, por parte de muitos doentes, a suspensão abrupta da medicação com efeitos particularmente deletérios nos doentes com doença coronária não estabilizada (síndrome de privação), frequentemente associado ao efeito nocebo que nos explica por que razão alguma doente passou a atribuir de forma errada sintomas só após conhecerem os efeitos secundários dos fármacos correta (ler a bula) ou exageradamente divulgados.

Ainda há muita gente que acredita que a televisão não engana, esquecendo-se que, por exemplo, os anúncios publicitários recomendados por personalidades muito populares nos media promovem o uso de alimentos processados com elevado teor de sal, açúcar e gordura saturada que são muito nocivos para os doentes e as crianças.

Como seria útil utilizar o poder da televisão para melhorar a saúde pública no nosso país. Sabia que, segundo dados da população portuguesa, se cada pessoa consumisse a partir de hoje menos 2g de sal por dia, a taxa de AVCs diminuiria 30 a 40% nos próximos cinco anos, ou seja, em média, evitar-se-iam 11.000 casos de AVC por ano?

Como seria útil a televisão lembrar-lhe isto, entre outros conselhos para a saúde, todos os dias.

Será mesmo o colesterol uma grande farsa e as estatinas o maior embuste farmacêutico do século, pois poderá ter sido esta dúvida que ficou a pairar na mente do telespectador? A resposta a esta questão é NÃO!».../...

(continua)

(1) - Ovídio Costa - Cardiologista no Hospital da Lapa; diretor dos cursos de pós-graduação em Geriatria Clínica e Medicina Desportiva da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

(2) - Manuel Oliveira Carrageta - Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia; presidente da Sociedade Portuguesas de Geriatria e Gerontologia

Sem comentários: