domingo, 9 de julho de 2017

O negócio da saúde (e dos ginásios)

A crónica de opinião de António Freitas de Sousa, intitulada "Pela nossa Saúde", publicada ontem no "Jornal Económico". Com a merecida e habitual vénia,

«Um dos temas que aparentemente mais vendem capas de jornal é o da saúde. Uma análise estatística sobre a matéria permite, contudo, chegar-se a uma conclusão simples: conforme as fontes, todos os alimentos, toda a natureza, todas as práticas são saudáveis e o seu contrário.

Ou não: podem também ser o seu contrário e o contrário disto, o que vai dar ao mesmo. É confrangedor, mas mais confrangedor ainda é que as pessoas acreditam naquilo – sendo impossível saber-se o que é aqui, dado que aquilo, o que quer que seja, é bom ou mau conforme o artigo que se queira eleger. O exemplo do azeite é talvez o mais conhecido: passou de produto nacional a reles difusor de cancro, antes de voltar a ser repescado para a prateleira dos produtos de qualidade – e daí, parece que para a posteridade, saltou para o restrito lugar dos produtos gourmet, capazes de nos salvar a saúde em todos os seus mais diversos interstícios. Nada disto seria propriamente grave, se não deixasse atrás de si um lastro de aborrecimento que se instala em todas as conversas, em todos os restaurantes e em todos os artigos de jornal sobre a matéria. Bom, o que é grave não é isto: é que atrás disto vêm negócios escondidos que interessam milhões. E os leitores lá vão achando que os temas da saúde têm a ver com a saúde, quando só têm a ver com o negócio da saúde, que está para a saúde como está a chuva para um dia de sol: não tem nada a ver. Dando-se mais um passo chega-se a esse outro negócio da saúde que são os ginásios. É o lugar do regabofe: é difícil encontrar um setor mais inacreditável em termos de tratamento dos seus funcionários – e isso devia ser o suficiente para toda a gente se impedir de colocar lá os pés. Os ditos aceitam todos os currículos que lhe entrem portas dentro, depois colocam os jovens a cumprir uma formação específica para aquele lugar – pela qual têm de pagar – finda a qual vão para casa esperar que sejam chamados para trabalhar – normalmente no milénio seguinte. Mas isto é como diz o ditado: é pela saúde, ninguém leva a mal.»

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