Resposta do Presidente do SIM (Sindicato Independente dos Médicos), dr. Carlos Arroz, Médico de Família, ao dr. Francisco George, Director Geral de Saúde, a propósito do Comunicado intitulado "Atestados Médicos para a Carta de Condução", datado de 2 de Dezembro, enviado àquele Sindicato:
.../... «Lendo com a máxima atenção o ali transmitido, verifico, sem qualquer surpresa, que o colega subscreve um Comunicado em que revela um total desconhecimento do que é actividade actual de um médico de família. Dezenas de anos de afastamento da prática clínica assistencial e muitos anos praticando e defendendo um fundamentalismo normativo, onde se incluem os que o rodeiam e aconselham, resultam num Comunicado com indesculpáveis falsidades e inverificáveis facilidades.
Nada, absolutamente nada do que subscreve se verifica.
Tudo, absolutamente tudo o que subscreve revela quem decide por programas em versão beta, por ecrãs estéreis de hipóteses assépticas em ambientes informáticos de excepção, irrepetíveis no dia a dia de um médico de família, esteja ele numa USF ou numa UCSP.
Como bem sabe, os dirigentes do SIM mantém a prática clínica assistencial no SNS. Estamos no terreno e sabemos do que falamos. Daí o Comunicado. Simples, directo e absolutamente verificável.
Também sabemos que está habituado à inércia dos destinatários das suas decisões e, mais grave, não está habituado ao contraditório. Só assim se justifica tanta assertividade no Comunicado e tanta facilidade em atropelar a verdade.
.../... Com o anterior sistema, obsoleto e em papel, o médico de família, conhecedor profundo do seu doente e do seu circuito clínico no SNS e na medicina privada, procedia a uma análise crítica com bom senso clínico e emitia, condicionava, restringia ou negava o atestado solicitado.
Com o novo sistema, moderno e electrónico, assente no mais puro fundamentalismo europeu, o médico de família submete-se a uma tortura, mendiga pareceres, que sabe inviáveis no SNS, desculpa-se de tempos de espera, a que é alheio, em acessos a consultas de Especialidades, e coloca-se, sem defesa, perante a fúria e a incompreensão dos doentes e dos seus familiares.
.../... Por mim, simples médico de família, resta-me, defendendo o bom senso clínico e, no estrito âmbito do Regulamento n.º 707/2016 da Ordem dos Médicos – Regulamento de Deontologia Médica – enquadrado pela Constituição da República Portuguesa, resistir à ordem técnica por si subscrita e não emitir o atestado electrónico para Carta de Condução logo que o processo que agora defende entre em vigor.
Estou certo que estarei amplamente acompanhado.»
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