sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Hillary vencia? Voltámos a cair na armadilha das sondagens...

Com a necessária e merecida vénia, eis alguns excertos do artigo de opinião de António Bagão Félix, intitulado "Afinal Trump era literalmente trunfo", publicado ontem no jornal "Público":

.../... «As ideologias vão sendo secundarizadas na escolha dos eleitores. A política como a conhecemos desvanece-se. É a “democracia, estúpido!”.

A personalidade e actuação dos candidatos conta cada vez mais. E, no teatro, Trump (em português: trunfo) trunfou. Porque, certo ou errado, a sua representação esteve mais conforme a sua intrincada personalidade, digamos que fez um teatro mais natural e autêntico. Clinton nunca pareceu à-vontade, cheia de tiques coreográficos, dando a ideia que não sentia muito do que dizia. Definitivamente, não é uma mulher de afectos, como agora sói dizer-se. Fria, distante, não dissimulando a sua pretensa superioridade e algum desdém face ao americano comum. Ele reclamando-se de uma vida de “não político”, ela com uma vida quase só de carreira política.

Estes resultados (Trump e pleno dos republicanos no Congresso) de consequências ainda imprevisíveis, foi – gostemos ou não – um soco no estômago da “normalidade” pantanosa, hedonista e injusta em que o mundo ocidental (sobre)vive. Agora virá o maniqueísmo: ou vai ser o apocalipse, ou, ao invés, vai ser o paraíso. Certo é que Trump vai ser confrontado com o duro choque e pragmatismo sufocante da realidade.

Aqui havia escrito que Hillary venceria. Eu e quase todos. Voltámos a cair na “armadilha” das sondagens. Tanta tecnologia, tanta expertise, tantos inquéritos, mas, no fim, a crescente diminuição da sua fiabilidade. Tivemos o caso das últimas eleições gerais no Reino Unido, mais recentemente, o Brexit e agora estas eleições, para mostrar que algo tem de mudar. Bem sei que, nestes casos, os sistemas eleitorais britânico e americano suscitam dificuldades acrescidas para previsões. Mas que diabo, tanta diferença é perversa, até porque influencia a própria votação ou abstenção. Como prever e inferir com base em votação online ou mesmo por telefone móvel? Como medir essa maior expressão eleitoral da abstenção? Como ultrapassar a retracção de inquiridos que dissimulam a sua opção, perante a quase mandatória “correcção política do voto pré-determinada pelo ambiente mediático”? Imagino, nestas eleições, a facilidade com que se respondia “eu voto democrata” e o constrangimento com que se respondia “eu voto republicano”. À esquerda, a presunção e superioridade moral do voto. À direita, a quase censura que muitos auto-infligem. Foi assim lá, é assim cá e pela Europa fora. Em doses diferentes.»

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