terça-feira, 10 de maio de 2016

Uma cebola debaixo do colchão

«Os colchões são coisas horríveis e é inacreditável que haja quem durma neles. Acumulam ácaros e são feitos de materiais tóxicos, como o ácido bórico (irritante), formaldeído (cancro) e antimónio (muita mau). É um milagre que alguém acorde vivo. Felizmente para tudo há uma solução muito simples, mas que os cientistas, a indústria e os governos nos querem esconder e que neste caso é uma cebola debaixo do colchão. Cortada em três partes.

Como é que eu sei? Apesar de haver muitas pessoas a esconder estas coisas, há muito mais a partilhá-las na internet. É incrível a quantidade de dinheiro desperdiçado na investigação em cancro, quando se pode comprar um quilo de cebolas por 0,49 euros. Só o orçamento anual para a ciência em Portugal daria para comprar mil milhões de toneladas de cebola. Pela mesma via fiquei a saber que a indústria farmacêutica não quer que eu conheça um dos mais poderosos ingredientes naturais: a babosa, que também cura o cancro, se for colhida antes do nascer do Sol. Na timeline do Facebook chego à conclusão de que no mundo só há dois tipos de coisas: as que curam e as que causam cancro. Descobri também um dos melhores remédios para a memória, de que poucos se lembram: caminhar durante 30 minutos. Alzheimer resolvido. E ainda por cima também melhora a atividade sexual. Graças aos bons cibernautas também passei a andar com uma agulha, para poder salvar a vida de alguém com um AVC. Não me importo, desde que não seja no bolso de trás. São umas picadinhas nas pontas dos dedos e nas orelhas e já está. Diz que é cem por cento eficaz, a via verde do AVC ponha-se a pau.

Além dos blogues naturistas e vegetarianos, também já há jornais de referência que ajudam a passar a mensagem. É o caso do i, que me ensinou três formas para manter o meu colesterol «certinho»: comer muitos feijões e lentilhas, trinta minutos de exercício e uma maçã e por dia. E é mesmo a sério, porque cita o Dr. Oz, um telemédico norte-americano acusado várias vezes de divulgar pseudociência e que no seu programa já apresentou dicas para tratar a homossexualidade. Obrigado Dr. Oz, por não ligar peva ao pensamento racional e continuar a dar conselhos simples para resolver problemas tornados complicados pela ciência e outros.

E o leitor também não tem de agradecer. De nada!»

(Crónica de opinião da autoria de David Marçal, intitulada "Ela queria melhorar a sua vida sexual e pôs uma cebola debaixo do colchão, nem vai acreditar no que aconteceu a seguir!", publicada no passado dia 8 de Maio na revista "Notícias Magazine")

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