domingo, 10 de agosto de 2014

Crime, dizemos todos

(Excertos do artigo de opinião do jornalista João Marcelino, publicado no "Diário de Notícias" online no dia 2014.08.09)

«1. No final da linha do escândalo BES tem de haver gente presa. Não é possível que dezenas de milhares de pequenos acionistas estejam condenados a perder a quase totalidade das suas poupanças e tudo tenha acontecido sem que haja responsáveis, apenas por meras circunstâncias de mercado ou pela terrível complexidade da gestão financeira associada ao dia-a- -dia dos bancos. Não pode ser! Aqui houve gestão danosa, destruição de valor numa escala telúrica para um país da dimensão de Portugal e os seus responsáveis têm de pagar por isso. A Justiça não pode servir apenas para prender Donas Brancas. Quando se lê qualquer notícia sobre o BES na imprensa internacional, agora que passou o tempo suficiente para se perceber o que está em causa, é essa perplexidade que surge: como é que ainda não há responsáveis detidos?

2. O crime também esteve associado aos últimos momentos da vida do velho BES. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) já desconfia de algo que fora do circuito oficial ninguém pode ter dúvidas: houve fugas de informação criminosas que permitiram a algumas pessoas e instituições safarem-se - o termo é este - da original intervenção de que o banco foi alvo. Se no dia (sexta, 1 de agosto) em que as ações foram suspensas, 83 milhões delas foram transacionadas em 42 minutos (mais de duas vezes a média diária!, até se chegar aos 12 cêntimos por ação!), se agora se sabe que a Goldman Sachs conseguiu vender tudo o que tinha em carteira e até, por aqueles dias, a Portugal Telecom decidiu fechar a sua conta no banco dos acionistas!), a conclusão só pode ser uma: soube-se! Os amigos, como aqueles a quem Ricardo Salgado mandou recomprar papel comercial nos últimos três meses, inflacionando o prejuízo do banco em sentido contrário às instruções recebidas do regulador, o Banco de Portugal, conseguiram minorar as perdas. Os indícios são mais que muitos e prová-los deve ser uma missão das instituições que regulam o setor, em associação com a Justiça.»
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