.../...«Quando trabalhava no escritório do Porto
do "Expresso", em Júlio Dinis, um colega meu mantinha sob contrato um
arrumador que atuava na zona do Bom Sucesso.
Era uma espécie de
serviço de valet parking, como está na moda ser disponibilizado à porta
dos restaurantes de grandes metrópoles, como São Paulo ou Los Angeles,
nas zonas onde lugares vagos de estacionamento são um fator escasso.
O
Paulino chegava com o carro e não tinha de se preocupar em arranjar
lugar. Deixava-o em segunda fila e confiava a chave ao arrumador, que o
estacionava corretamente logo que surgisse uma vaga - e, mal detetava a
presença de fiscalização, corria a meter diligentemente uma moedinha no
parquímetro e o respetivo papelinho junto ao para-brisas.
O
arrumador do Paulino não era um chantagista, mas sim um prestador de
serviços, um empreendedor que sabia criar valor e um exemplo a elogiar e
seguir - apesar de desenvolver a sua atividade no âmbito da economia
paralela (estará muito longe de ser o único a fugir aos impostos).
Em
junho, estava sentado numa esplanada, em Boston, em frente ao Macy, a
preparar um passeio pelo North End, quando ouvi uma simpática voz
feminina a disponibilizar-se para me ajudar.
Do you need some
help? Não, não precisava, mas até parecia que sim, pois estava debruçado
sobre um mapa e três guias (DK, Time Out e Gallimard).
Mal ouviu
a minha resposta, a senhora simpática pegou numa vassoura e começou a
varrer a rua e eu fiquei a saber, pelos dizeres estampados (Ambassador
Boston Downtown) na sua sweater verde (a cor de Boston) que era uma
embaixadora da cidade, destacada para prestar serviço na Baixa.
Qualificar
os arrumadores, transformando-os em prestadores de serviços de valet
parking, e reconverter desempregados de longa duração e beneficiários do
RSI em embaixadores multitarefas (que tanto limpam a rua como usam o
walkie talkie para reportar problemas ou ocorrências e disponibilizam
ajuda a quem passa) seriam boas ideias para melhorar o ambiente nas
nossas cidades e garantir um trabalho digno e útil aos nossos
concidadãos que atravessam uma fase menos boa das suas vidas.»
(Excerto do artigo de opinião publicado ontem no "Jornal de Notícias", da autoria do jornalista Jorge Fiel, sub-director daquele periódico)
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