É certamente um dos "tudólogos" em voga mais conhecidos dos portugueses. Político assumido, opina sobre tudo e sobre todos. Tem lugar cativo (obrigatoriamente espaçoso) numa das nossas estações televisivas. É provavelmente o mais redondo dos quadrados que se sentam à mesa da quadratura. E quando bota faladura, doutoral sempre, não gosta de ser interrompido.
Ontem à noite, era inevitável, falou-se da recente mas já histórica "campanha dos 50% do Pingo Doce". Visionário, fazendo a síntese das imagens de reportagem dos média e certamente de outras informações misteriosamente obtidas das restantes 360 lojas da respectiva cadeia de distribuição, classificou de humilhante a campanha de descontos do dia 1 de Maio e delimitou dois grupos de compradores que se submeteram ao vexame das filas de espera, dos conflitos, das discussões: a dos pobres, velhos e ciganos, ou seja os feios, porcos, mal educados e incultos, que assumiram frontalmente a humilhação, e o grupo daqueles que se furtaram à abordagem dos repórteres e que escondiam a cara, os envergonhados "novos pobres" da classe média, os que se sentiram verdadeiramente vexados por serem obrigados, por súbita necessidade, a tão humilhante submissão.
Voilà - ficámos todos esclarecidos. Aguardamos agora que este distinto "tudólogo" faça também a avaliação das próximas campanhas de desconto do mercado da grande distribuição. Será que já terá sido informado, por exemplo, acerca do que se tem verificado nos dias das campanhas de desconto do IVA nas lojas "Media Markt" (a última na região do grande Porto, no recente dia 1 de Março)? Seria interessante conhecer a classificação que teria feito da multidão de compradores, também eles carregados de compras, sem carrinhos para as colocar, que pacientemente(?) aguardaram de pé, em filas intermináveis, pela chegada às caixas registadoras. Pobres? Necessitados? Humilhados? A que grupo(s) pertenceriam?
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