Um estudo levado a cabo por uma equipa de
investigadores da Universidade de Coimbra e Centro de Neurociências, liderada por Rodrigo Cunha, concluiu que a administração de cafeína, em doses equivalentes a 3 ou quatro chávenas
de café por dia, controla o défice de atenção e hiperactividade sem
causar efeitos secundários, nomeadamente dependência, como acontece com a
ritalina, um fármaco derivado da anfetamina, utilizado actualmente para
controlar a patologia.
Na Europa, cerca de sete por cento das crianças estão medicadas devido
a défice de atenção e hiperactividade e estima-se que nos Estados Unidos
sejam 20 por cento.
Regra geral, a patologia surge por volta dos nove anos de
idade e atinge o pico de modificação de comportamento, que afecta o dia
a dia da criança no seu desempenho escolar e interacção social, aos
13/14 anos, idade a partir da qual surge o perfil claramente
patológico.
As anfetaminas e derivados podem criar dependência e perda de
eficiência ao longo do tempo, além de estarem associadas a uma maior
propensão a processos irreversíveis de consumo de outros fármacos e
drogas.
A pesquisa, desenvolvida ao longo dos últimos três anos em modelos animais (ratos), além de demonstrar que a cafeína é benéfica porque recupera a função da dopamina enquanto neurotransmissor do cérebro (com um papel muito importante no comportamento e cognição), permitiu também evidenciar diversas modificações que ocorrem no cérebro em situações de défice de atenção e hiperactividade.
Questionado se as crianças com défice de atenção e hiperactividade deveriam, então, passar a consumir café, o investigador e docente da Faculdade de Medicina, diz que «é seguro afirmar que o consumo de café é benéfico em crianças e adolescentes, mas a clínica deve obedecer a todo um protocolo. Os resultados obtidos carecem ainda de ensaios clínicos (a próxima fase do estudo) e, por isso, não devemos, ainda, recomendar aos cuidadores de crianças hiperactivas a inserção de café na sua dieta».
As conclusões do estudo, já aceite para publicação na revista European Neuropsychopharmacology, são muito promissoras para o «desenvolvimento de uma nova geração de fármacos muito mais selectivos, ou seja, medicamentos que actuam apenas no tratamento da défice de atenção e hiperactividade, não causando os denominados efeitos colaterais ou secundários, concretamente toxicidade e dependência», realça o investigador Rodrigo Cunha.
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