«No tom de quem comenta a subida do preço do bacalhau na mercearia, o chairman da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira, veio comentar os prejuízos declarados pelo banco público (448 milhões), dizendo que eles eram normais e "incontornáveis", face às "imparidades" existentes (1,67 mil milhões de euros).../...
.../...Que o BPI declare prejuízos porque andou a apostar na dívida grega, por mais chocante que seja, é um problema dos accionistas privados do BPI. Mas as "imparidades" da Caixa, são para serem pagas pelos contribuintes e acontece que essas "imparidades" (excepto no que se refere ao BPN, onde o governo Sócrates obrigou a Caixa a atravessar-se, na mais estúpida decisão alguma vez tomada por um governo), resultam, não de apostas de risco falhadas, mas sim de apostas políticas e pessoais. A Caixa - um banco do Estado, que deveria servir para apoiar o crescimento da economia, financiando pequenas e médias empresas e para funcionar como retaguarda financeira do investimento público - construiu o grosso do crédito malparado a financiar amigos da política ou dos almoços para que eles tomassem posição em empresas privadas. Ou a tomar ela própria posição nessas empresas, para aí jogar concertada com os seus amigos. No limite, a administração da Caixa (não todos, mas alguns), chegou ao despudor de emprestar centenas de milhões de euros para que alguns empresários tentassem tomar o controlo do BCP. Vejam bem: um banco público a imiscuir-se nas guerras de poder de um banco privado, utilizando para tal o dinheiro dos contribuintes!».../...
(Da "Opinião" de Miguel Sousa Tavares, no jornal semanário "Expresso" de 18 de Fevereiro de 2012)
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