quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Casa da Música e a Ópera (que não tem)

A afirmação, lida no jornal online "Página 1" de ontem (link), mas que terá sido proferida durante uma entrevista transmitida pela Rádio Renascença, foi feita por um tal sr. Nuno Azevedo, administrador-delegado da Casa da Música do Porto desde 2006. 

O sr. Azevedo considera  que é uma mais-valia para a instituição não ter capacidade para realizar óperas tradicionais porque isso liberta-a para ter uma programação diversificada. Disse ele: 

"Seria limitativo se a Casa da Música tivesse ópera", explicando que "se a Casa da Música tivesse um fosso para ópera, haveria a expectativa de que programássemos uma temporada de opera clássica. E isso seria limitativo. Produzir ópera requer uma quantidade de recursos que iria minar o que me parece essencial para o projecto: ter uma casa aberta a um grande número de géneros musicais e que procura o cruzamento entre eles".

Que pérola de raciocínio!  A pretender justificar o injustificável: a existência de uma instituição, destinada à cultura musical que, por evidente aberração desde a sua concepção, discrimina um dos mais antigos e representativos dos géneros musicais. Será que o Coliseu do Porto, por exemplo, tem alguma limitação da respectiva programação, musical ou não musical, pelo facto de disponibilizar anualmente a sua temporada de Ópera?

E é "isto" um administrador-delegado!

2 comentários:

Anónimo disse...

Um tal de Nuno Azevedo?! O senhor, anónimo frontal escondido de rabo-de-fora sabe bem quem é :-) Que tal discordar, contra-argumentar, contestar, criticar sem ataques ao profissionalismo alheio? Isso já é falta de carácter! E não percebe nada, sr. route não sei o quê, de programação operática, de gestão de uma instituição que programa música. Deve ser mais um ressabiado!
Luís Machado

Daniel Furtado disse...

Agradeço o seu comentário, sr. Luís Machado.

Não fora o título e não teria dado qualquer importância à notícia. O que está em causa não é o profissionalismo do sr. Nuno Azevedo, mas a sua despropositada afirmação de que "é uma mais valia para a instituição [Casa da Música] não ter capacidade para realizar óperas tradicionais porque isso liberta-a para um programa diversificado". A Casa da Música devia ter condições para apresentar espectáculos operáticos clássicos. É lamentável não as ter. Não as tem por um incompreensível e clamoroso erro (irremediável?) na concepção de tão enaltecido edifício, apesar do gigantismo do projecto e do preço. Considerar esta aberração uma "mais valia" é o quê, sr. Machado? O Teatro Nacional de São Carlos só apresenta espectáculos de ópera? O Coliseu do Porto não tem habitualmente uma programação musical variada, para além da ópera?

Não me teria insurgido se o sr. Nuno Azevedo tivesse simplesmente enaltecido o "programa diversificado" da Casa da Música do Porto. Não aceito que queira atribuir esse cometimento à "mais valia" obtida pelo facto de não haver possibilidade de nela realizar óperas tradicionais.

Sou um vulgar cidadão, habitante da cidade do Porto, que gosta de música, ópera incluída. Anónimo, como a grande maioria dos que aqui vivem. Que também têm opiniões. E que para as exprimirem não precisam de mostrar o bilhete de identidade. Ou de exibir os apelidos sonantes, ainda que os tenham.