terça-feira, 27 de outubro de 2009

"As afirmações religiosas do ateu José Saramago"

«No frente-a-frente televisivo entre José Saramago e o padre Carreira das Neves, o escritor português defendeu o "direito à heresia". Carreira das Neves respondeu, e muito bem, que Saramago não pode ser herético se não acredita em Deus. Tivesse o nosso Prémio Nobel da Literatura mais cuidado com as palavras e perceberia que aquilo que está a defender é, isso sim, o direito à blasfémia, já que a heresia é um afastamento da verdade "oficial" de uma religião, e por isso pressupõe a existência de fé.

.../...faz tanto sentido o ateu Saramago dizer que "a Bíblia é um manual de maus costumes" como faria dizer que "as obras de Shakespeare são um catálogo de barbaridades". De Homero a José Saramago, a literatura faz-se de grandes páginas a relatar os actos mais hediondos, e ninguém evidentemente acha que isso seja um defeito. Se para o nosso Prémio Nobel, Caim, Deus ou Jesus são apenas personagens de ficção, que sentido faz considerá-las maus exemplos de vida? Saramago está convencidíssimo de que Deus não existe, mas também está convencidíssimo de que Deus é um pulha. A isto chama-se a lógica da batata. Espero que Saramago escreva um livro sobre ela um dia destes.»

João Miguel Tavares, artigo de opinião no jornal "Diário de Notícias", 2009.10.27 (Artigo completo aqui)

Nem mais. Concordo em absoluto.

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