quarta-feira, 29 de junho de 2016

E agora, "Reino Unido"?

Com a devida vénia, eis alguns excertos do artigo de opinião do investigador em assuntos europeus João Pedro Dias, com o título "E agora, UK?" publicado hoje no jornal online "Económico":


«Eis a primeira grande perplexidade associada ao resultado deste referendo: a impreparação dos vencedores para assumirem os resultados e as consequências da sua vitória.
.../...
A maior e mais surpreendente tem a ver com a total e absoluta impreparação dos defensores do Brexit – e, por maioria de razão, dos defensores do ‘remain’, com David Cameron à cabeça – sobre o que fazer em caso de um resultado que desse a vitória ao ‘leave’. Já se passou quase uma semana sobre o dia do referendo e, até agora, ainda ninguém se “chegou à frente”; ainda ninguém conseguiu apresentar um plano coerente e consistente sobre os passos subsequentes, quer no estrito plano interno, quer no domínio das relações com as diferentes nacionalidades, com a Escócia à cabeça, quer, sobretudo, no âmbito das relações com Bruxelas e com a União sobrante.

Cameron – que Felipe González muito bem qualificou como um político que vai ficar na história por razões menores, por ter ameaçado a integridade do Reino Unido (RU) e a coesão da União Europeia (UE) apenas para manter e afirmar o seu poder pessoal – bateu em deserção. Convocou o referendo depois de ameaçar a UE e quando tomou consciência dos resultados do mesmo, desertou – para não ficar ligado ou associado ao processo de divórcio do Reino da União. Hoje, tal como na passada segunda-feira na Câmara dos Comuns, o que foi capaz de afirmar foi que será o RU a determinar o tempo da invocação do célebre artigo 50º do Tratado da União Europeia e as condições em que quererá negociar a saída da União. Ou seja, nem no momento do ‘leave’, o Reino perde a pose altiva e de superioridade com que sempre tratou Bruxelas e as questões atinentes à UE.

Mas se esta postura poderia ser mais ou menos esperada da parte dos defensores da permanência do Reino Unido, já da parte dos defensores do Brexit se esperaria algo mais. Uma ideia, um plano, um caminho, uma rota para a separação e a saída da União Europeia. Esperança vã. Já se percebeu que nada disso existe. Já se percebeu – Cameron afirmou-o – que terá de ser o novo governo e o novo primeiro-ministro a determinarem o caminho a seguir e as condições e exigências a fazer a Bruxelas. Sim, porque parece que o Reino Unido, depois de 43 anos a fazer exigências a Bruxelas – exigências que lograram concretizar no cheque agrícola que Thatcher obteve das Comunidades, que Major conseguiu nos ‘opt-outs’ negociados por ocasião do Tratado de Maastricht ou mesmo que Cameron alcançou com as medidas que foram aprovadas em fevereiro passado a troco de se empenhar na permanência do RU na UE – se prepara para continuar a fazer exigências na hora da saída. Quiçá se tentando obter fora muito do que não conseguiu obter dentro. Com esta UE tudo é possível...»
.../...

Sem comentários: