«Os números são equivalentes aos de uma guerra civil e já se torna fastidioso, por um sentimento de irreprimível inutilidade, evocá-los a qualquer pretexto. O ‘Público’ conclui, com rigor, que em 50 anos morreram 75.151 pessoas nas estradas e mais de dois milhões ficaram feridas. O ‘Expresso’ fala em 10 mil atropelamentos em dois anos. O CM deixa-nos o trágico recorde europeu das estradas alentejanas. A estrada mata muito mais do que a guerra colonial. Infelizmente, os números exprimem uma realidade que não tem nada de surpreendente. A incivilidade faz a regra no asfalto e o Estado agrava esse trágico ponto de partida com fraca manutenção das estradas e desistência de uma real política de prevenção. Em Lisboa, por exemplo, mata-se muito nas passadeiras, mas nestas escasseiam os radares ou a polícia. Os automobilistas não respeitam os peões, pura e simplesmente, com total impunidade. Basta passar uma tarde em algumas ruas e avenidas para ver que impera a lei da selva. O Estado e as autarquias limitam-se a afirmar uma vocação predatória, através das multas dos radares que colocam em locais onde não há risco, mas a facilidade de potenciar as infrações por excesso de velocidade é imensa. É o que temos e, pelos vistos, face ao silêncio, à omissão e à inatividade reinantes, satisfaz os nossos governantes: muita gente a morrer, o Estado a engordar e a encher os cofres despudoradamente.»
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