Também tenho os meus. Respeito-os e gosto muito deles!
Com a devida vénia, eis o artigo de opinião de Miguel Esteves Cardoso, publicado hoje no jornal "Público",
«Actualmente vivo com dois aranhiços. Um deles é meu inquilino e o outro é meu passageiro. Ambos são sedentários – ainda mais sedentários do que eu.
Um trapézio sem trapezista “é somente uma barra e duas cordas”
O aranhiço caseiro vive no meu lavatório, indiferente às cascatas da torneira e às nuvens de espuma para a barba. Desde pequenino, desde que as aranhas se tornaram amigas minhas, que me pergunto como é que elas não têm medo das pessoas – ou, pelo menos, das pessoas que não lhes fazem mal.
A princípio, movido por vaidade, julguei que o aranhiço me observava a lavar a cara e a escovar os dentes, talvez para se distrair do tédio do alumínio e dos azulejos.
Mas não. Cedo percebi que o aranhiço estava de costas. Não me perguntem como determinei para onde ele estava virado. Só sei que não era para mim. Aliás estou convencido que ele só se interessava por ele próprio e por moscas.
A casa de banho está bem apetrechada daquelas mosquinhas apetitosas que não podem ver uma lâmpada acesa sem sentirem um desejo absurdo de se sacrificarem. Muitas delas ficam-se pela teia do aranhiço, que gosta de deixá-las penduradas a maturar, como ínfimos bacalhaus com asas.
Percebi então que a falta de medo e a indiferença do aranhiço é apenas uma compreensível arrogância. Ele sabe que é um aliado valioso contra as pragas aladas. Não tem medo porque faz-nos falta.
O outro aranhiço mora no espelho lateral do meu carro. Há mais de um ano que lá está. A teia está tão bem concebida que resiste às velocidades mais estapafúrdias. É regularmente examinada pela Pininfarina.
Gosto muito deles.»
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