quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Os debates Trump-Hillary Clinton

Com a devida vénia, do artigo de opinião de José Pacheco Pereira, com o mesmo título, publicado na habitual rubrica "A lagartixa e o jacaré" da revista "Sábado", no passado dia 14 de Outubro, o excerto seguinte:

.../... «Trump é uma personagem execrável, pessoal e politicamente, que é já um perigo público para os EUA e para o mundo. As últimas gravações boçais sobre as mulheres, entre uma exibição do poder de quem acha que porque tem dinheiro pode fazer o que quiser e se comporta como um predador, e a mais total grosseria, na verdade, não surpreenderam ninguém. Mas suscitaram um festival de hipocrisia como há muito tempo não se via na política americana. As televisões americanas, que são púdicas ao ponto de criarem um caso quando se viu um mamilo de uma cantora, passam e repetem ad nauseam as frases grosseiras de Trump na abertura dos noticiários seguidas de comentários jornalísticos e declarações de repúdio moralistas dos republicanos. É, no seu excesso e na sua hipocrisia, política "à Saraiva", e como eu não gosto do moralismo da fechadura da porta, também me desagrada esse festival de hipocrisia. Trump podia até ser um excelente candidato ao lugar, que não é, e ter feito aquelas declarações ofensivas que qualquer homem sabe que são aliás muito comuns nas conversas entre homens, que são quase por regra muito grosseiros e ofensivos face às mulheres. O que não são é gravadas, nem eles são candidatos presidenciais. Não se justificam, podiam ser citadas sem ser obsessivamente repetidas, e podiam poupar-nos o moralismo.

Ora Trump, um bruto, chega ao debate com Hillary Clinton, queira-se ou não como the real thing, o produto genuíno, e ela como um sumo produto da hipocrisia política, que não se explica sobre os emails, que não reconhece os erros clamorosos da política externa americana na Líbia e na Síria, que anda de braço dado com Wall Street, e que conhece todos os meandros e truques da política do círculo de confiança que frequenta há 30 anos. Ela é infinitamente mais preparada do que ele, ele mente e calunia, sem se preocupar com provas, distribui caneladas por todo o lado. É muito parecido com as personagens que habitam os comentários na Internet, mas ela é falsa até à medula. Em momentos de crise, é ele que marca todo o terreno à sua volta, e ela não suscita simpatia nem numa pedra da calçada. Ele enfurece-nos a todos com a sua grosseria, mas ela é "mais do mesmo" numa altura em que as pessoas já estão mais que fartas do mesmo. Espero que Clinton ganhe, mas ela merece o Trump. Nós é que não. »

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