Kurt Masur, maestro alemão, de 88 anos, morreu sábado, dia 19 de Dezembro, em Greenwich, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos, devido a complicações da doença de Parkinson, doença de que sofria há anos.
Nascido em Brieg, então na Silésia alemã, hoje a cidade polaca de Brzeg, a 18 de Julho de 1927, Kurt Masur venceria a vontade do pai em tornar-se electricista e dedicar-se-ia a tempo inteiro àquela que desde cedo viu como a sua vocação. Uma lesão irrecuperável num tendão da mão direita, aos 16 anos, impediu-o de seguir carreira como instrumentista, o que o obrigou a concentrar os seus esforços e talento na função de maestro. O acontecimento infeliz conduziu-o inadvertidamente ao caminho da regência de orquestras, que o tornou mundialmente celebrado e deixou, como consequência, aquela que se tornou uma das suas imagens de marca – a lesão obrigou-o a prescindir de usar a batuta.
Depois de combater no exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial, Kurt Masur completou os estudos e iniciou o seu percurso profissional em várias orquestras e companhias de ópera da Alemanha de Leste. O primeiro cargo de prestígio surgiu enquanto maestro da "Filarmónica de Dresden", que ele dirigiu entre 1967 e 1972, mas foi enquanto Kappelmeister da Gewandhaus, em Leipzig, que começou a firmar o seu prestígio, tanto nacional, como internacional. Manteve o cargo durante 26 anos sem se comprometer com o regime comunista ditatorial que liderava o país, o que não impediu que as autoridades lhe devotassem admiração e respeito, o mesmo, de resto, que sentia todos os dias nas ruas de Leipzig por parte da população. Em Outubro de 1989, no auge das manifestações pela democracia iniciadas em Leipzig e quando um confronto entre manifestantes e a polícia parecia inevitável, a sua intervenção impediu um banho de sangue. Convidou representantes dos dois lados a debater na Gewandhaus e de lá saíram com uma mensagem apelando à não-violência considerada fundamental para a revolução pacífica que se seguiu. Foi difundida por ele, um humorista, um membro da Igreja e representantes governamentais através da rádio e de altifalantes nas ruas.
Dois anos depois, Kurt Masur, homem imponente pela estatura (media 1,90m) e pela disciplina com que liderava os seus músicos, chegava a uma "Filarmónica de Nova Iorque" que, descreve o "New York Times" no seu obituário, se transformara numa orquestra "taciturna" e "morna" durante a regência de Zubin Mehta. Kurt Masur esteve longe de ser a primeira escolha. Antes, os dirigentes da Filarmónica receberam recusas de Claudio Abbado, Colin Davis e Bernard Haitink, e o anúncio da chegada do maestro alemão foi recebida com cepticismo. Desconfiava-se da sua devoção pelos clássicos do Romantismo e da sua capacidade em abordar repertório moderno e contemporâneo e temia-se que o seu carácter meticuloso e disciplinado colidisse com o temperamento dos músicos da orquestra. Porém, quando a abandonou onze anos depois, os elogios eram unânimes. Escreve o "New York Times" que nesse período a "Filarmónica de Nova Iorque" recuperou o seu vigor musical, conseguiu novos contractos discográficos e boa exposição radiofónica, e atraiu novos públicos, o que rejuvenesceu a sua audiência. Elogiado pela direcção de obras como a Pathétique de Tchaikovski ou o "Martírio de São Sebastião", de Debussy, e apaixonado pela obra de compositores como Beethoven, Brahms, Mahler ou Mendelssohn, não deixou, no entanto, de encomendar novas obras a compositores como Thomas Adès, Hans Werner Henze ou Sofia Gubaidulina.
Kurt Masur deixa esposa, cinco filhos e nove netos.
«Eu não quero ser conhecido como "uma maravilha"», disse o maestro ao "New York Times" em 1991. «A maravilha é a música».
(Adaptado da notícia publicada no jornal "Público" de sábado último)

Sem comentários:
Enviar um comentário