«Não há nada de relevante que possamos escrever sobre alguém que se mata -
mas ficar em silêncio parece-me cumplicidade com a morte. Eu sou da
geração Clube dos Poetas Mortos, filme que nunca me atrevi a
rever, porque tenho a certeza de que é muito pior do que a memória que
guardo dele. E é impossível ser dessa geração sem ficar profundamente
tocado com o suicídio de Robin Williams. Ele foi um extraordinário actor
sem nunca ter feito um extraordinário filme, mas para mim será sempre o
professor que levou os alunos a subirem para as mesas, que me
apresentou Leaves of Grass, e me ensinou o significado das palavras "carpe diem".
O capitão, como no poema de Whitman, jaz agora morto, mas ao contrário
do poema de Whitman, não houve gesta heróica, nem há razões para
celebrar. Robin Williams mentiu: aproveitar apenas o dia não chega.
Precisamos todos de alguma coisa que nos sustenha, quando o dia acaba e o
riso não sai.»
(Excerto do artigo de opinião de João Miguel Tavares publicado no jornal "Público" de 2014.08.14)
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