A acção desenvolve-se em França, ano de 1915. Jean Valjean (Hugh Jackman) é libertado após de 19 anos de prisão, cinco por
ter roubado um pão e mais 14 por várias tentativas de fuga. A sociedade repudia-o ao conhecer o seu passado o que o leva a um crescente rancor pelos homens em geral. Um
encontro com o caridoso bispo de Digne, Monsenhor Myriel (Colm Wilkinson), revela-lhe o
poder da dádiva e do perdão, o que vai transformar num homem diferente dedicando-se, desde então, a fazer o bem. Alguns anos depois, Valjean, sob uma nova identidade para escapar à perseguição que lhe é encarniçadamente movida por Javert (Russell Crowe) seu antigo carcereiro, é um próspero industrial respeitado por
todos. Conhece Fantine (Anne Hathaway), uma
mulher perdida e gravemente doente, que lhe pede para cuidar de Cosette, a filha que, ingenuamente, confiou aos cruéis
e exploradores proprietários de um albergue. Valjean vai à sua procura. E o encontro com a criança irá alterar a vida de ambos.
Baseado na obra musical de Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg, adaptada
da obra homónima, escrita em 1862 por Victor Hugo, este "Les Misérables", realizado por Tom Hooper, revela-se algo fastidioso, com evidentes erros de casting, cenas demasiado longas e outras de desnecessário mau gosto (lembremos o desenrolar da fuga pelos esgotos de Paris...). Tratando-se de um drama musical, a imposição de os intérpretes terem de cantar em directo, fosse qual fosse a sua aptidão para tal arte e o ambiente em que tinham que o fazer, origina dissonâncias inevitáveis e manifesta a fragilidade ou incapacidade de alguns. O exemplo mais clamoroso é o de Russell Crowe, actor capaz de representar com rigor um polícia zeloso e excessivo, mas nunca de o fazer a cantar, o que põe em causa a sua competência.
Em suma, sendo um filme de boa qualidade global, não é obra para tantas (8) nomeações para os Óscares. São justas as nomeações de Anne Hathaway para "melhor actriz secundária", pois tem uma interpretação soberba, revela uma bela voz e oferece-nos momentos de grande emotividade, bem como a de Hugh Jackman, nomeado para "melhor actor", pois interpreta uma personagem bastante diferente daqueles que costuma encarnar, tem uma boa voz e alguma facilidade em cantar.
Por fim, um desabafo. Para quem respeita e ama a língua e a cultura francesas, não é fácil assistir a um espectáculo que, desenrolando-se em francês, é interpretado por actores e actrizes anglo-saxónicos que se exprimem, cantam e dão vivas à França em inglês ou em francês "macarrónico"...
Sem comentários:
Enviar um comentário