... título nesta semana da habitual crónica de Miguel Sousa Tavares no semanário "Expresso", resume com precisão os contornos da actual crise política portuguesa e aborda com clareza as suas causas próximas e remotas. É talvez um dos mais lúcidos e corajosos trabalhos deste autor e jornalista que tão criticado tem sido por alguns sectores da nossa sociedade, algumas vezes com razão, reconheça-se. Miguel Sousa Tavares inicia desta forma o seu artigo, que vale mesmo a pena ler na totalidade:
«O erro fatal de José Sócrates foi ter sido o último, a gota que fez transbordar o copo onde já não cabia mais nada. Nem foi tanto a história do PEC-surpresa, anunciado ao país numa manhã, em traços grossos, e uma hora depois detalhado para Bruxelas: isso foi uma indelicadeza, uma inútil arrogância, mas não foi o principal. O principal é um Governo socialista chegar ao ponto de cortar pensões de 180 e 220 euros e diminuir o IVA para o golfe até ao escalão mínimo.De taxar a eito tudo o que é trabalho, produção de riqueza e apoios sociais aos mais desprotegidos e manter as grandes obras do regime, inúteis e sumptuosas, para favorecer o cancro das parcerias público-privadas a favor dos mais privilegiados. De fustigar até ao absurdo os rendimentos do trabalho e taxar em termos ridículos a grande especulação financeira e imobiliária. De sufocar as pequenas empresas e permitir o escândalo da zona franca da Madeira, um paraíso de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco. De se assanhar contra qualquer poupança que um cidadão consiga fazer e encolher os ombros perante a exportação de capitais, lucros e impostos devidos.»
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