domingo, 27 de março de 2011

"O fim do caminho"...

... título nesta semana da habitual crónica de Miguel Sousa Tavares no semanário "Expresso", resume com precisão os contornos da actual crise política portuguesa e aborda com clareza as suas causas próximas e remotas. É talvez um dos mais lúcidos e corajosos trabalhos deste autor e jornalista que tão criticado tem sido  por alguns sectores da nossa sociedade, algumas vezes com razão, reconheça-se. Miguel Sousa Tavares inicia desta forma o seu artigo, que vale mesmo a pena ler na totalidade:

«O erro fatal de José Sócrates foi ter sido o último, a gota que fez transbordar o copo onde já não cabia mais nada. Nem foi tanto a história do PEC-surpresa, anunciado ao país numa manhã, em traços grossos, e uma hora depois detalhado para Bruxelas: isso foi uma indelicadeza, uma inútil arrogância, mas não foi o principal. O principal é um Governo socialista chegar ao ponto de cortar pensões de 180 e 220 euros e diminuir o IVA para o golfe até ao escalão mínimo.De taxar a eito tudo o que é trabalho, produção de riqueza e apoios sociais aos mais desprotegidos e manter as grandes obras do regime, inúteis e sumptuosas, para favorecer o cancro das parcerias público-privadas a favor dos mais privilegiados. De fustigar até ao absurdo os rendimentos do trabalho e taxar em termos ridículos a grande especulação financeira e imobiliária. De sufocar as pequenas empresas e permitir o escândalo da zona franca da Madeira, um paraíso de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco. De se assanhar contra qualquer poupança que um cidadão consiga fazer e encolher os ombros perante a exportação de capitais, lucros e impostos devidos.»
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