segunda-feira, 3 de julho de 2017

Insólito: aprovada a primeira licenciatura em acupunctura em Portugal

Foi aprovada pela Agência de Acreditação e Avaliação do Ensino Superior (A3S) a primeira licenciatura em acupunctura, no Instituto Politécnico de Setúbal. Esta aprovação é uma consequência da Portaria 207-F/2014, publicada durante o governo de Passos Coelho, que define os requisitos para uma licenciatura em acupunctura.


Eis alguns dos pertinentes comentários respigados do blogue "De Rerum Natura" publicados hoje sob o título "Primeira licenciatura em acupunctura da cobra":


.../...«As revisões sistemáticas da literatura científica, que combinam os resultados de todos os ensaios clínicos metodologicamente robustos acerca de tratamentos de acupuntura tiram invariavelmente uma das seguintes conclusões:

- a acupuntura não mostrou eficácia terapêutica no tratamento da doença x.
- há indicações muito ligeiras da eficácia da acupunctura no tratamento da doença y, mas os métodos são inadequados e as amostras demasiado pequenas.

Há tantos ensaios clínicos (de qualidade em geral má) e revisões sistemáticas acerca de tratamentos de acupuntura que se pode mesmo fazer uma revisão das revisões sistemáticas. E foi mesmo feita, em 2006, e publicada na revista Clinical Medicine. Da análise das 35 revisões consideradas, os autores concluíram que não há nenhuma prova sólida de que a acupuntura funcione para qualquer condição clínica.

Por muita conversa com palavras esquisitas e portarias publicadas, a acupuntura não é um tratamento médico que funciona melhor do que os poderes dos Pókemons num campo de batalha real. E a acreditação da primeira licenciatura em acupunctura não muda isso em nada. E o que é mais grave, é que essa aprovação decorre directamente do cumprimento de uma portaria emanada do poder político, que define conteúdos programáticos de licenciaturas em terapias alternativas. Isso mesmo é assumido no relatório da A3S que acredita a licenciatura:

"Estrutura Curricular e Plano de Estudos assentam nas quatro áreas formativas, indicadas na respectiva Portaria”

Isto é aberrante. A fundamentação científica que as terapias alternativas não conseguem obter através dos processos normais da ciência é colmatada politicamente. Se através da ciência e dos seus processos não conseguem provar as suas ideias, não faz mal, conseguem convencer políticos. Estas portarias, assinadas por dois Secretários de Estado do anterior governo (Fernando Serra Leal, na altura Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, e José Alberto Nunes Ferreira Gomes, antigo Secretário de Estado do Ensino Superior) deveriam ser imediatamente revogadas, pela distorção que induzem no Ensino Superior, aliciando as instituições a prostituírem a sua credibilidade. Esta é mais uma vertente do grande negócio que são as terapias alternativas.

Este avanço das terapias alternativas em Portugal é disparatado e fora de tempo, num momento em que estas recuam em vários países. Em Maio passado, o Colégio de Médicos de Madrid resolveu acabar com todas as actividades e formações em terapias alternativas, por tal de base científica. Antes as universidades de Valência e Barcelona tinham fechado cursos de homeopatia, pela mesma razão.»

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