quarta-feira, 24 de maio de 2017

E por falar em adolescência

«E POR FALAR EM ADOLESCÊNCIA: tempos houve em que os adolescentes afogueados faziam acrobacias perigosas para vislumbrar as colegas de liceu no balneário. Eram tempos primitivos: os mancebos acreditavam, ingenuamente, que havia uma diferença entre os sexos. E que essas diferenças, biologicamente sancionadas, constituíam o tempero da curiosidade hormonal.

Tudo mudou. O sexo deixou de ser um facto biológico. Passou a ser uma construção social. E, agora, nem isso: falar de "homens" ou "mulheres" é persistir no erro de que existem tais coisas.

Não existem e a MTV sabe disso: na entrega de prémios ao cinema e à televisão, o famoso canal deixou de fazer distinções de género na hora de consagrar actores. Os nomeados são uma salada mista. E a vencedora, desta vez, só por acaso foi "mulher". Aplaudo a coragem da MTV. E pergunto se o gesto será extensível a outros contextos sociais – como, por exemplo, a partilha do duche depois das aulas de ginástica. Espero que sim: evitam-se mais lesões por espionagem e o sistema nacional de saúde agradece.»

(Crónica de João Pereira Coutinho, intitulada "E por falar em adolescência", publicada na revista "Sábado" do dia 2017.05.10)

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