quarta-feira, 12 de abril de 2017

O crédito e o calote

Do artigo de opinião da autoria de António Bagão Félix, intitulado "A dívida é sagrada, Deus lhe pague!", publicado no dia 10 do corrente mês no jornal "Público", os seguintes excertos, com a devida vénia,

.../...«Enfim, somos um país de dívidas. Dívida pública, sempre a inchar, dívida da banca ao BCE, dívida das empresas e das famílias, dívida nacional ao exterior. Ora o endividamento é o principal garrote ao crescimento e um factor de empobrecimento estrutural.

O calote é assim e cada vez mais uma instituição nacional. Ao invés, a poupança é um filho enjeitado. A solidariedade geracional é uma treta. Por isso, há quem pense que o melhor é gastar, mesmo que gastar signifique endividar-se. Para o que é útil e necessário, mas também para o que se revela desnecessário, fútil, senão mesmo inútil. Um fartote!

O crédito é um instrumento fundamental para as empresas investirem e o sistema fiscal, até o favorece, erradamente, em detrimento dos capitais próprios. O investimento tanto pode ser trigo, como joio, mas muitas vezes se confunde trigo com joio. Temos mais capitalistas de dívidas do que de capitais.

Muito do valor total das imparidades concentra-se em fartos créditos a entidades de óbvio risco concentrado e acrescido. No fim, a responsabilidade vai dissolver-se no nevoeiro do tempo. Os “senhores do crédito” não desapareceram. Alguns metamorfosearam-se, tão-só.

Neste país, parece que vale a pena incumprir. O grande caloteiro assobia para o lado. Às vezes, a empresa faliu, mas os seus mandantes vivem “na melhor”. Como dizia George Herbert “quem se livra das dívidas enriquece!” De facto, a infeliz e injusta regra dos devedores aí está em pleno: se se é pequeno devedor, o problema é dele; se se é grande devedor, o problema é do credor. Quem tem uma grande e contumaz dívida não se preocupa, o credor preocupa-se por ele.

É como no sistema fiscal, recorrentemente. Ainda agora se viu: grandes devedores e grandes empresas pagaram tarde e foram premiadas. Quem paga no fim este “almoço”? Os contribuidores cumpridores, tal como no sistema financeiro.

A vida prossegue. Rapidamente voltaremos à bola e a mais umas minudências para entretenimento. E certas “máximas” continuam: [o] dever acima de tudo. E a dívida é sagrada, Deus lhe pague!»

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