sábado, 1 de abril de 2017

Esta opinião é verdadeira. Partilhe

«É impressionante a leviandade com que as pessoas partilham notícias falsas nas redes sociais. Muitas vezes sem ler. Olham para o título, para a foto apelativa, e partilham. É há quem esteja a aproveitar essa fragilidade para fazer disto um negócio. Criam sites e páginas nas redes sociais para espalhar o conteúdo e assim ganham milhares. E o que acontece? Nada. As redes sociais - em particular o Facebook - aproveitam o negócio para ganhar mais uns milhões. Quem devia regular, não regula. Estamos todos a fechar os olhos para um negócio perigoso para a democracia.

Há uns anos, lembro-me bem, quando os blogues estavam na moda, o discurso era que "agora qualquer pessoa pode ser jornalista"

Depois veio o jornalismo do cidadão. Uma vez mais, os jornalistas eram dispensáveis porque qualquer pessoa, com um telemóvel, noticiava o acontecimento.

A verdade é que, na maior parte dos casos, os blogues são espaços de opinião. Válidos, mas não mais do que isso. E quem regista um acontecimento com uma foto, ou um vídeo, não é um jornalista. É apenas uma testemunha que está no local. Tem uma visão. Que a revela. Apenas isso.

Mas o que está a acontecer nos dias de hoje é outra coisa. E que, como cidadão, preocupa-me. Estamos a falar de profissionais que criam notícias falsas com um embrulho de jornalismo. E isso é muito perigoso.

Há uns anos não teriam espaço para o crescimento deste vírus. Mas hoje têm. E estão a aproveitá-lo. Estão a aproveitar as redes sociais. E estão a aproveitar as pessoas que se deixam infetar por esse vírus.

Cada vez mais, todos os números indicam, temos contacto com a informação através do Facebook. Em particular os mais novos. Navegamos pela nossa parede, entre posts de amigos e notícias que vão aparecendo. Mas o que é que lá está? O algoritmo que o Facebook utiliza é provavelmente um dos maiores segredos dos últimos tempos. Pouco se sabe.

Mas a verdade é que, na minha parede, só aparece aquilo que o Facebook quer. Os posts patrocinados estão lá. Claro, é assim que ganham dinheiro. A família, alguns amigos mais próximos. E aquilo que é muito partilhado. Não interessa a fonte. Não é relevante se é verdadeiro ou falso. Se é importante. Está a ser muito partilhado, lá estará.

E o problema não está só nas notícias falsas. Está também no chamado "clickbait". Isca de cliques, será uma simpática tradução.

Precisamos, como sociedade, como democracia, redobrar a atenção a este fenómeno. Não podemos permitir que o contacto com a informação esteja dependente de um algoritmo criado algures nos Estados Unidos.

Esse trabalho começa com cada um de nós. Não podemos partilhar notícias falsas. Conteúdo que nos cria dúvidas. Não podemos alimentar esse vírus.

Mas isso não basta. É preciso que as autoridades responsáveis comecem a olhar de forma séria para este problema. Levantem questões. Façam perguntas. Porque este negócio está a provocar danos na sociedade. Em última análise, como temos verificado, pode atingir o coração de qualquer democracia.

Esta opinião é verdadeira. Partilhe.»

(Artigo de opinião de Alexandre Brito, intitulado "Esta notícia é falsa. Partilhe", publicado no dia 30 de Março de 2017, na página online da "RTP Notícias")

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