segunda-feira, 10 de abril de 2017

A gestão da União Europeia

«A União Europeia, o mais extraordinário projecto político desde 1789, é hoje gerida por um chefe de estação rabugento (Schäuble), um medroso especialista em isenções fiscais (Juncker) e um puto que despreza essa bela tropelia minhota de Deus Nosso Senhor, o vinho verde (Dijsselbloem – ou Dusseldorf, como lhe chama o meu afilhado).

Um alemão, um luxemburguês e um holandês – poderia ser o início de uma anedota caso metesse álcool e não terminasse em tragédia –, expoentes máximos do contributo do Norte da Europa para a civilização ocidental a seguir aos visigodos, aos moinhos de vento e ao Ikea, são três dos cavalheiros responsáveis pela catita Declaração de Roma do fim-de-semana passado. Leiam a preciosidade: "Agiremos juntos, a diferentes ritmos e intensidades quando necessário, movendo-nos na mesma direcção... e mantendo aberta a porta para aqueles que se quiserem juntar mais tarde."

Não, não é o manifesto dadaísta engendrado por Tristan Tzara num cabaré, ou a sequência de abertura de Esses Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras. É apenas o comboio esquizofrénico e desgovernado da Europa a 27, com os vagões abertos para quem quiser saltar fora (o Brexit, esse modelo de suicídio assistido) e carruagens de 1ª (o Norte e o Oeste) e 2ª classe (o Sul e o Este), capaz de unir o Bloco de Esquerda de Catarina Martins e a Frente Nacional de Marine Le Pen no mesmo propósito: sair no próximo apeadeiro. Seria um desastre brutal. Mas que motivos temos nós, passageiros, para permanecer num comboio desgovernado?»

(Pedro Marta Santos, jornalista e argumentista, em "Putos e vinho verde", de "O moralista", revista "Sábado" n.º 674, de 30 de Março de 2017)

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