«Hoje é último dia deste ano. Às vezes, parece-me que o tempo está fechado entre horas e datas.
Os anos terminam e começam, numa sucessão de dias, vividos na agitação e na solidão.
Numa sucessão de histórias, vividas em todas as línguas e em todas as geografias,
de acontecimentos felizes e de tragédias impossíveis de ignorar.
Mas como contar o tempo, quando nos espera a eternidade? Esta é uma pergunta que me inquieta.
Volto a ela tantas vezes, quantas me alegro e me entristeço; volto a ela sempre que me sinto impotente
perante o mal que vejo acontecer ou me encanto com a beleza, sempre que toco o amor ou sinto a saudade.
Jesus, nesta manhã do último dia deste ano,
Te peço que me libertes do peso de querer contar o tempo em dias bons e maus,
em vitórias e derrotas, em sonhos e fracassos, em muito e em pouco.
Liberta-me do peso de recordar mágoas e sentir saudades.
Do peso de reconhecer o mal que anda pelo mundo, rápido entre vidas e muralhas.
E traz-me a lembrança da ternura dos sorrisos, da beleza das manhãs claras,
dos abraços que nada pedem em troca, do amor dos meus.
Pressinto que só assim devo contar o tempo, aquele tempo que nos leva à eternidade.»
(Isabel Figueiredo, "Oração da Manhã", Rádio Renascença)
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