quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Sair do euro é apenas fugir ao euro

Do artigo de opinião com o mesmo título, de João Miguel Tavares, publicado hoje pelo jornal "Público", dois excertos, com a devida vénia:

.../... «É evidente que Stiglitz, Louçã ou o próprio PCP têm razão em inúmeras críticas que são feitas à construção do euro. Mas às vezes convinha que a Política e a Economia fossem temperadas por um bocadinho de História. Porque até parece que Portugal era o motor da Europa e um país economicamente pujante até ao malfadado dia em que se lembrou de aderir à moeda única. Vou contar-vos um segredo: não era. Estávamos impreparados para o euro? Sim, estávamos. Mas o euro não é a causa da nossa impreparação. Tenho imensas dificuldades em aceitar que todos os nossos problemas económicos sejam hoje atribuídos ao terrível euro e às imposições alemãs. Por uma razão muito simples e facilmente comprovável: a História de Portugal é um vasto estendal de crises e de falências, que vão muito para além do tetra-tetravô do senhor Jean Monnet e da tetra-tetravó da senhora Angela Merkel.

.../... Sair do euro é apenas fugir ao euro. Toda a gente fala da “década perdida” como se ela fosse a primeira da nossa história, ou como se não existissem outros países do mundo com décadas perdidas, mesmo com capacidade para imprimir moeda (o Japão, desde logo). Aquilo que o euro não nos permite, de facto, é mascarar as nossas fragilidades como antigamente – o euro exige a adopção de políticas mais corajosas do que telefonar para a Casa da Moeda a mandar ligar as rotativas. A afirmação de Portugal na Europa é um sonho antigo, que demorou e custou a concretizar. E é um sonho que vai muito para além da sua dimensão económica. Sair do projecto europeu é assumir a nossa absoluta menoridade. Antes outra década perdida dentro do euro do que uma década supostamente ganha fora dele.»

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