quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Jogos Olímpicos: Mais Rápido, Mais Alto, Mais ou Menos...

Irresistível, pela oportunidade e pela graça, a crónica de opinião de Ricardo Araújo Pereira, intitulada "Mais Rápido, Mais Alto, Mais ou Menos", publicada ontem na página da revista "Visão". Com a habitual vénia, eis a crónica:

«Toda a gente tem uma história acerca dos Jogos Olímpicos. Sei onde estava quando Carlos Lopes e Rosa Mota ganharam a maratona. Lembro-me de ter festejado as vitórias daqueles portugueses magricelas como se fossem minhas, até porque eu também era um português magricela. Foi nesses anos da minha juventude que percebi que, com persistência, esforço e sacrifício, uma pessoa como eu poderia realizar grandes façanhas. Já tinha a morfologia física e a nacionalidade correctas; só me faltavam a persistência, o esforço e o sacrifício. Uma vez que o mais difícil estava feito, abri outro refrigerante com gás e ajeitei-me melhor no sofá, para ver a cerimónia do pódio e cantar o hino.

No entanto, a mais bela e inspiradora história que conheço sobre os Jogos Olímpicos é bastante mais recente. Aconteceu há uns dez anos. Eu estava em Olímpia, na Grécia, no exacto local em que costumavam decorrer os Jogos Olímpicos da Antiguidade. À minha direita ficavam as ruínas do templo de Zeus. Em frente, a palestra, o edifício dedicado ao treino dos desportos de combate. E, precisamente no sítio em que me encontrava ficava o estádio, do qual sobravam apenas um arremedo de pista e uma laje que, ao que se diz, indicava a meta. Desmentindo a ideia de que, por mais recôndito que seja o lugar, haverá lá sempre um português, atrás de mim estavam dois. Era um casal que, como ficaria claro mais adiante, residia em Vila Nova de Gaia. Igualmente atenta às ruínas e ao numeroso grupo de turistas que as visitava, a senhora disse: “Vês o que eu te digo, Américo? Assim é que se aposta no turismo. Olha para isto: este estádio está todo estragado, é só meia dúzia de pedras, mas está cheio de turistas. Nós, ao pé da nossa porta, temos o estádio do Avintes, que está muito melhor do que este, e ninguém o vai ver.” E, depois de um suspiro, concluiu: “Não damos valor ao que é nosso.”

Não sei se haverá história que ilustre melhor o espírito olímpico. As olimpíadas são esforço, superação e excelência, que é o que aqui temos. A ideia de que, com o esforço de todos, o recinto do Futebol Clube de Avintes pode superar, em número de visitantes, o estádio de Olímpia, é excelente. E mais: além de se encontrar num estado de conservação melhor do que o estádio onde se realizaram os primeiros Jogos Olímpicos, ao que se lê nas notícias o estádio do Avintes oferece também melhores condições do que o estádio onde se vão realizar os próximos. É só vantagens.»

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